quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Lei da mordaça e crise de representatividade limitam a voz dos professores na cobertura educacional, avaliam jornalistas

By VOZES DA EDUCAÇÃO - 18/12/2013 5:22:53
Profissionais debateram relação entre professores e mídia durante evento realizado pela Rede Vozes da Educação no dia 19 de novembro

Por quê afinal os professores não aparecem nas matérias que tratam de temas educacionais? Esta foi a pergunta que norteou o debate promovido pela Rede Vozes no dia 19 de novembro, com a presença dos jornalistas Paulo Saldaña, de O Estado de S.Paulo; Karina Yamamoto, do UOL Educação; do secretarário de assuntos educacionais da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, e da jornalista e pesquisadora da Faculdade de Educação da USP Fernanda Campagnucci.
Estando entre as cinco maiores categorias profissionais do país, os docentes – quando aparecem – têm sua imagem estereotipada e não são valorizados na cobertura de temas com os quais lidam todos os dias. Entre os motivos que levam a isso, os debatedores destacaram a ainda presente Lei da Mordaça, o foco excessivo em conflitos públicos e a crise de representatividade de sindicatos docentes.

Para o jornalista da área de educação do Jornal O Estado de S.Paulo, Paulo Saldaña, existe uma série de motivos para que o professor não seja inserido na maior parte das matérias jornalísticas. “Apesar de a lei da mordaça ter caído em 2009 e 2010, na rede estadual e municipal de São Paulo, respectivamente, ela é muito presente no cotidiano da escola e as punições ainda ocorrem”, afirmou o jornalista ao comentar sobre a lei que proibia os professores de se referirem de maneira depreciativa às autoridades e aos atos da administração, mas que ainda “é muito presente no clima da escola” e que acaba “dificultando o trabalho de apuração das reportagens”.
Além disso, Paulo avaliou também que os próprios professores não costumam dar entrevistas por não confiarem na imprensa e não se enxergarem nas abordagens feitas por ela. “Os professores não confiam na mídia e acham que a cobertura de manifestações, por exemplo, é sempre voltada só para um dos lados”, disse. E complementou: e ele não quer se associar a imagem ruim que é divulgada, de que ele é o problema da educação e de que tem uma má formação. Ele não quer se colocar como o exemplo deste estereótipo de professor que é construído na imprensa”.

O  professor como notícia


Segundo levantamento feito pela Rede Vozes da Educação e pelo Observatório da Educação, ocorreram manifestações docentes em todas as redes estaduais de ensino e em pelo menos 118 municípios brasileiros em 2013. No entanto, de acordo com a editora de educação do portal UOL, Karina Yamamoto, na maior parte das vezes, os professores só aparecem na mídia ao mudarem o cotidiano da cidade (com protestos e manifestações), ao protagonizarem situações emotivas, ao chamarem a atenção com iniciativas “exemplares” ou ao cometerem alguma infração e “virarem caso de polícia”.
“Por mais cruel que possa parecer, o fato de serem professores ou não vai ser menos importante do que se um determinado protesto fechar a Avenida Paulista, por exemplo”, analisou a jornalista. Ao refletir sobre como aumentar a presença docente na cobertura educacional, Karina alertou que a categoria deve estar atenta à utilização e ao apelo por meio de imagens: “a gente tem que pensar a imprensa como um campo de batalha e é no território da imagem que a gente está disputando. Não tinha como se ignorar, por exemplo, a imagem do dia sete de outubro no Rio de Janeiro [Veja foto abaixo]. Os professores tomaram do centro do Rio até a Câmara dos Vereadores e essa imagem foi para a capa dos jornais e para a página inicial do UOL. Na disputa por espaço, a gente tem que levar isso em conta”, argumentou.
Neste mesmo sentido, Paulo Saldaña relatou a dificuldade da imprensa em cobrir uma manifestação para além do noticioso, de problemas no trânsito e que afetam a clamada classe média. “Em qualquer manifestação a violência acaba ganhando as manchetes e isso mostra uma dificuldade grande de se conseguir mostrar quais são as reivindicações de quem está protestando”, comentou o jornalista ao afirmar também que são poucos os jornais que possuem repórteres que cobrem exclusivamente a área da educação.


Crise de representatividade


Apesar de reconhecerem a importância das organizações sindicais e de afirmarem ouvir muitas delas em várias de suas apurações, Paulo e Karina expuseram a dificuldade em saber quem é o “porta voz do professor”.
“Recentemente tanto o governo do estado quanto a Prefeitura de São Paulo quebraram o sistema de ciclos, aumentando a possibilidade de reprovação dos alunos. Me parece que a maioria dos professores das redes apóiam a mudança, mas os pesquisadores da USP, por exemplo, acham um absurdo. E de quem é a opinião correta? Eu acredito que devemos ouvir todos os lados, mas ainda sim é difícil porque nunca vamos conseguir que todos os grupos se sintam realmente representados”, disse Paulo, ao citar que no estado de São Paulo existem dois sindicatos que podem representar a categoria dos professores da rede estadual (CPP e Apeoesp), mas que, em muitas vezes, possuem opiniões divergentes.

Ainda sobre o desafio da busca por fontes de informação, Karina afirma que esta é uma dificuldade constante, apesar de tentarem ouvir o maior número de pessoas. “Sempre nos perguntamos como vamos chegar ao professor, além de já tentarmos escutar fontes como o especialista em educação, o líder sindicalista, o diretor da escola e a secretaria de educação. Mas me parece que o professor ainda tem pouca voz na mídia”, reconhece a editora.

Um comentário:

  1. Parabéns! Muito interessante o blog de vocês!
    Juliana Feltran e Aparecida

    ResponderExcluir