By VOZES DA EDUCAÇÃO - 18/12/2013 5:22:53
Profissionais debateram relação entre
professores e mídia durante evento realizado pela Rede Vozes da Educação no dia
19 de novembro
Por quê afinal os professores não aparecem
nas matérias que tratam de temas educacionais? Esta foi a pergunta que norteou
o debate promovido pela Rede Vozes no dia 19 de novembro, com a presença dos
jornalistas Paulo Saldaña, de O Estado de S.Paulo; Karina Yamamoto, do UOL
Educação; do secretarário de assuntos educacionais da Confederação Nacional de
Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, e da jornalista e pesquisadora
da Faculdade de Educação da USP Fernanda Campagnucci.
Estando entre as cinco maiores categorias
profissionais do país, os docentes – quando aparecem – têm sua imagem
estereotipada e não são valorizados na cobertura de temas com os quais lidam
todos os dias. Entre os motivos que levam a isso, os debatedores destacaram a
ainda presente Lei da Mordaça, o foco excessivo em conflitos públicos e a crise
de representatividade de sindicatos docentes.
Para o jornalista da área de educação do
Jornal O Estado de S.Paulo, Paulo Saldaña, existe uma série de motivos para que
o professor não seja inserido na maior parte das matérias jornalísticas.
“Apesar de a lei da mordaça ter caído em 2009 e 2010, na rede estadual e
municipal de São Paulo, respectivamente, ela é muito presente no cotidiano da
escola e as punições ainda ocorrem”, afirmou o jornalista ao comentar sobre a
lei que proibia os professores de se referirem de maneira depreciativa às
autoridades e aos atos da administração, mas que ainda “é muito presente no
clima da escola” e que acaba “dificultando o trabalho de apuração das
reportagens”.
Além disso, Paulo avaliou também que os
próprios professores não costumam dar entrevistas por não confiarem na imprensa
e não se enxergarem nas abordagens feitas por ela. “Os professores não confiam
na mídia e acham que a cobertura de manifestações, por exemplo, é sempre
voltada só para um dos lados”, disse. E complementou: e ele não quer se
associar a imagem ruim que é divulgada, de que ele é o problema da educação e
de que tem uma má formação. Ele não quer se colocar como o exemplo deste
estereótipo de professor que é construído na imprensa”.
O professor como notícia
Segundo levantamento feito pela Rede Vozes
da Educação e pelo Observatório da Educação, ocorreram manifestações docentes
em todas as redes estaduais de ensino e em pelo menos 118 municípios
brasileiros em 2013. No entanto, de acordo com a editora de educação do portal
UOL, Karina Yamamoto, na maior parte das vezes, os professores só aparecem na
mídia ao mudarem o cotidiano da cidade (com protestos e manifestações), ao
protagonizarem situações emotivas, ao chamarem a atenção com iniciativas
“exemplares” ou ao cometerem alguma infração e “virarem caso de polícia”.
“Por mais cruel que possa parecer, o fato
de serem professores ou não vai ser menos importante do que se um determinado
protesto fechar a Avenida Paulista, por exemplo”, analisou a jornalista. Ao
refletir sobre como aumentar a presença docente na cobertura educacional,
Karina alertou que a categoria deve estar atenta à utilização e ao apelo por
meio de imagens: “a gente tem que pensar a imprensa como um campo de batalha e
é no território da imagem que a gente está disputando. Não tinha como se
ignorar, por exemplo, a imagem do dia sete de outubro no Rio de Janeiro [Veja
foto abaixo]. Os professores tomaram do centro do Rio até a Câmara dos
Vereadores e essa imagem foi para a capa dos jornais e para a página inicial do
UOL. Na disputa por espaço, a gente tem que levar isso em conta”, argumentou.
Neste mesmo sentido, Paulo Saldaña relatou
a dificuldade da imprensa em cobrir uma manifestação para além do noticioso, de
problemas no trânsito e que afetam a clamada classe média. “Em qualquer
manifestação a violência acaba ganhando as manchetes e isso mostra uma
dificuldade grande de se conseguir mostrar quais são as reivindicações de quem
está protestando”, comentou o jornalista ao afirmar também que são poucos os
jornais que possuem repórteres que cobrem exclusivamente a área da educação.
Crise de representatividade
Apesar de reconhecerem a importância das
organizações sindicais e de afirmarem ouvir muitas delas em várias de suas
apurações, Paulo e Karina expuseram a dificuldade em saber quem é o “porta voz
do professor”.
“Recentemente tanto o governo do estado
quanto a Prefeitura de São Paulo quebraram o sistema de ciclos, aumentando a
possibilidade de reprovação dos alunos. Me parece que a maioria dos professores
das redes apóiam a mudança, mas os pesquisadores da USP, por exemplo, acham um
absurdo. E de quem é a opinião correta? Eu acredito que devemos ouvir todos os
lados, mas ainda sim é difícil porque nunca vamos conseguir que todos os grupos
se sintam realmente representados”, disse Paulo, ao citar que no estado de São
Paulo existem dois sindicatos que podem representar a categoria dos professores
da rede estadual (CPP e Apeoesp), mas que, em muitas vezes, possuem opiniões
divergentes.
Ainda sobre o desafio da busca por fontes
de informação, Karina afirma que esta é uma dificuldade constante, apesar de
tentarem ouvir o maior número de pessoas. “Sempre nos perguntamos como vamos
chegar ao professor, além de já tentarmos escutar fontes como o especialista em
educação, o líder sindicalista, o diretor da escola e a secretaria de educação.
Mas me parece que o professor ainda tem pouca voz na mídia”, reconhece a
editora.